7.2.09

ESPIRITUALIDADE NO PROTESTANTISMO: ANÁLISE E PERSPECTIVAS

Não tenho a pretensão de encontrar definições para espiritualidade. Gostaria apenas de analisar alguns modelos de espiritualidade fazendo uma leitura do protestantismo em diálogo com outras formas em que se dá a dimensão da espiritualidade. Com isso, a intenção é buscar convergências com outras vertentes da espiritualidade religiosa e sua inserção no imaginário religioso.

O protestantismo tem um modelo de espiritualidade. A Reforma Protestante inaugura um modelo centrado no texto bíblico. Dotada de autoridade, a Bíblia ganha status de revelação e único meio de comunicação estabelecido entre Deus e o crente. A ortodoxia protestante marcada pelo intelectualismo dá origem ao pietismo alemão como fuga da severidade doutrinária sem paixão. O modelo de espiritualidade no protestantismo sempre foi protagonizado por Lutero e Calvino, que desenvolveram modelos que prezavam o texto bíblico. Na Inglaterra de João Wesley o movimento holiness (santidade) foi mais intimista que coletivo. Uma busca por santidade individual que valorizava o ascetismo e a pecaminosidade do corpo. A teologia dos avivamentos nos Estados Unidos preconizava o medo da punição eterna, a soberania implacável de Deus e a doutrina calvinista da eleição.

A espiritualidade protestante é marcada pelo individualismo. A dificuldade de conciliação entre as denominações é uma herança do liberalismo. A definição protestante de espiritualidade é individualista. Alguém definiu espiritualidade no protestantismo da seguinte maneira: “espiritualidade é, portanto, algo de cunho pessoal. Ela se evidencia através de formas distintas, como jejum, reunião de oração, serviço cristão e leitura da Bíblia”. É um modelo. Mas é um modelo subjetivo e fragmentário. Desprovido de consciência coletiva e interação social. Os manuais de espiritualidade são carregados de noções que valorizam os aspectos interiores do crente. Um exemplo disso é o livro de John Bunyan, O Peregrino, que influenciou vários missionários no Brasil com sua temática e linguagem que exalta a dimensão da eternidade para o crente.

Há uma dicotomia na espiritualidade brasileira. Uma que enfatiza a busca intimista do Sagrado na forma de texto bíblico – para esses orar três vezes ao dia e ler a Bíblia diariamente é o suficiente; outra que se alimenta do desejo consumista e vê nisso o mover de Deus. É necessário ver outros modelos e práticas que coadunem com o atual momento que vivemos.

O protestantismo dessacralizou o mundo, tornando-o utilitário, secular e passageiro. O Sagrado não é visitado na dimensão planetária, não é percebido misticamente. Como necessitamos de uma espiritualidade ecológica que contemple a Criação e se deixe extasiar pela sua mística. Uma espiritualidade panenteísta, que consiga enxergar Deus nas pequenas coisas da Criação.

Necessitamos de uma espiritualidade que leve a sério a dimensão política da Igreja. Um engajamento político-social no cotidiano com uma profunda preocupação com os rumos da economia e da sociedade.

A igreja anseia por uma espiritualidade comunitária e solidária. Onde o outro seja a ponte para ver Deus; a reunião em torno da Bíblia seja carregada de entusiasmo comunitário; a oração não seja para buscar poder, pelo contrário, seja para fortalecimento mútuo e oportunidade de adoração coletiva; que a ceia não seja apenas um acessório do culto, mas uma celebração de alegria e louvor pela comunhão com os irmãos.

São perspectivas que procuro compartilhar com a comunidade. Nesta tentativa, bebo no poço de outras vertentes da espiritualidade religiosa, e confesso que alguns autores fora dos arraiais evangélicos são dotados de modelos espirituais mais pertinentes para a atual conjuntura dos nossos tempos. Uma espiritualidade integradora.

Um comentário:

Pedro disse...

O Texto é muito bom filosoficamente, mas espiritualmente é frio. Paulo já combatia este tipo de texto, chamando-o de vã filosofia. É preciso fazer a obra com poder e unção. Buscar o poder de Deus com oração, jejum, oração no monte, sacrifício. Ver que Deus é o mesmo ontem, hoje e para sempre, continua curando, transformando e ajudando. Quem crer verá os sinais. Chega de uma teologia engessada. Nada acontece. O povo quer o poder de Deus.E se aparecer um endemoninhado na igreja, o que fazer? Chamar a ambulância, aplicar um sossega-leão? Doença espiritual se ataca com remédio espiritual - Marcos 16.17/18 (Em meu nome expulsarão demônios, falarão novas línguas.... Depressão é doença natural, psicossomática ou doença espiritual (Demônios)? O texto é bom, mas não serve para os cansados e oprimidos, estes são salvos pelo trabalho do apóstolo Valdemiro Santiago. Este é espiritual. Obrigado.